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Diálogo e amor ajudam diminuir o ciúme entre irmãos

Na foto: O casal Sabrina e Sergio com os filhos Vicente e Maria Eduarda: depois que o irmãozinho nasceu, Duda ficou mais “difícil”

Mãe de Maria Eduarda, 4 anos e três meses, e Vicente Dalla Pria Ferrairo, 11 meses, a médica Sabrina Dalla Pria vive um momento delicado. “Quando a Duda estava com 3 anos e 5 meses mais ou menos ela começou a dar trabalho. Fomos em uma sessão de fotos, que eu fiz quando estava grávida do Vicente, e lá ela chorou muito. Não queria deixar eu fazer as fotos. Quando o Vicente nasceu, foi mais difícil, porque ela havia ficado muito tempo sendo a filha única. Eu, ela e meu marido sempre saíamos, e tivemos que ficar um pouco mais em casa por causa do nenê. E ela não aceitava, por mais que o pai fizesse as coisas com ela, não adiantava, ela dizia que queria eu”, relembra Sabrina.

Depois disso, a pequena Maria Eduarda, que já não usava mas fralda, voltou a fazer xixi na roupa e a falar como bebê. Sabrina diz que nesse período todo foi conversando com a filha, “mas agora que Vicente está com 11 meses e fazendo as gracinhas dele a Duda voltou a ficar irritada”, explica a mãe: “Eu sou psiquiatra, mas achei melhor buscar ajuda de uma psicóloga infantil para a Duda. Agora, depois que ela passou a frequentar as sessões, ela consegue entender quando realmente está triste, brava, com raiva ou com ciúmes. Conversamos muito sobre isso”, diz Sabrina. “A criança muitas vezes fala a palavra sem ao menos saber o significado. E a decisão de ter o segundo filho foi muito bem pensada e estudada por mim e pelo meu marido. Nós sabíamos que podíamos passar por isso. Que a Duda poderia sofrer no começo, mas ela terá um companheiro para a vida toda”, completa. No momento em que Maria Eduarda passou a frequentar a psicóloga ela soube que poderia chegar e dizer para a mãe que estava com ciúme em vez de ficar brava, chorar e não participar das brincadeiras com o irmão. “Logo no começo tudo ela falava que estava com ciúme. Aí eu dava o Vicente para o meu marido, que sempre me ajudou muito, e ficava com ela. Às vezes, ela fazia isso enquanto eu estava dando banho no bebê. Não tinha como eu parar. Então eu chamava ela e falava ‘vem ajudar a mamãe que, daqui a pouco, vamos ficar juntas’. E ela vinha a contragosto, mas vinha”, lembra a mãe. Hoje, segundo Sabrina, Duda está mais tranquila. “Não fala mais o tempo todo que está com ciúme. Aos sábados, saímos só nós duas. É um momento só nosso. Dessa forma ela vai entendendo que não perdeu espaço para o irmão. E em todas as brincadeiras eu falo para ela que agora somos quatro e que o Vicente tem que participar.” Amadurecimento Para a psicopedagoga e psicanalista Frida Leão, de São Paulo, as brigas e o ciúmes entre os irmãos são comuns e fazem parte do amadurecimento psíquico. “Os filhos partilham de um desejo comum, a atenção e o amor dos pais, que quando somados ao impulso de garantir a sua própria individualidade abrem caminhos para brigas e disputas, tão comuns e ao mesmo tempo extremamente saudáveis”, diz a especialista. “É por meio dos conflitos que aprendemos a trabalhar com nossas frustrações, perdas, vontades não atendidas, com nossa limitação, ao mesmo tempo que descobrimos que não somos seres portadores de uma onipotência absoluta. Desta forma, as disputas entre irmãos têm grande importância na constituição do sujeito, e a forma como este aprende a lidar com seus conflitos e a resolver os seus problemas”, diz. Fique de olho nos sinais Para os especialistas, o ciúme na infância é normal e constitui uma das etapas do desenvolvimento psíquico, porém, os pais devem ficar atentos para que não seja algo em excesso. Normalmente, quando a criança começa a sentir ciúme ela muda o comportamento ,fica intolerante com o irmão, tenta mostrar aos pais o que esse irmão faz de errado, pode se tornar hostil, agressivo também com os pais e apresenta comentários como “Nossa, vocês deixam ele fazer tudo”, “Se fosse eu já teria levado uma bronca”, entre outros. “Quando o ciúme é em excesso, a criança apresenta falta de apetite, agressividade com o irmão, atrapalha o rendimento escolar, manha, revolta, algumas crianças se menosprezam, se desvalorizam. Isso começa a atrapalhar o desenvolvimento dela”, esclarece Cristiane Bertucci Nicoleti, psicóloga clínica e supervisora de estágio (gestalt terapeuta), em Rio Preto. De acordo com a psicopedagoga e psicanalista Frida Leão, de São Paulo, os pais devem estar atentos à maneira como conduzem uma situação de conflito entre irmãos, tomando cuidado para que sua conduta em um determinado momento não se torne modelo de comportamento a ser seguido, estalecendo sentimentos de submissão, triunfo, exacerbação de um e desvalorização do outro. “Nestas horas, os pais devem agir de forma conciliadora, incentivando que os próprios filhos dialoguem sobre os motivos da briga e sobre o que podem fazer para resolvê-los”, garante.

Evite comparações entre eles

Muitas vezes, os pais não fazem por mal, mas acabam fazendo comparações entre os filhos. “Não somos robôs programados e nem sempre podemos controlar sentimentos e atitudes. O ciúme entre irmãos é algo pertinente em todas as idades. Na infância, eles são mais evidentes, à medida em que o ser humano vai diversificando suas relações, pode lidar melhor com o desejo de ser o centro das atenções”, alerta Edith Rubinstein, psicopedagoga e terapeuta familiar, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, em São Paulo. “É difícil não fazer comparações entre os filhos, porém, é preciso cuidar para que as mesmas não causem insegurança e sentimento de incompetência.” Mesmo fazendo parte de uma mesma família, os filhos se constituem de maneiras diferentes, cada um internaliza vivências e acontecimentos no decorrer da infância de maneiras distintas. Irmãos não são seres psiquicamente idênticos, por mais parecidos fisicamente que sejam, por mais que partilhem dos mesmos gostos. São singulares, possuem desejos diferentes, que acabam por direcionar a maneira como se posicionam perante a vida. “Muitos pais utilizam as comparações entre seus filhos para destacar qualidades e condutas positivas. Colocar um irmão como modelo para o outro é um erro frequente. Não só diminui a autoestima do menos favorecido na comparação, como também faz com que o irmão colocado como modelo ganhe a antipatia dos outros. Toda criança deve ser estimulada e valorizada por si mesma, sem sentir a pressão de ser o primeiro ou de estar à altura do outro”, alerta a psicóloga Cynthia Wood, de São Paulo. A psicóloga Cristiane Bertucci Nicoleti, de Rio Preto, ainda destaca outras comparações que os pais fazem e que são consideradas um erro: “você é mais velho, não pode tratar seu irmão assim”. “Ele é seu irmão, você não pode sentir isso por ele.” “Cuidado, ciúme é feio.” Solução passa pela conversa e o amorA melhor forma de amenizar o ciúme entre irmãos é conversar muito com cada um e dar amor. A criança precisa se sentir amada para se sentir protegida e é pela conversa e os gestos que ela vai entendendo isso. A dentista Andressa Baffi Goes, mãe de Arthur, 4 anos, e de Sofia, 1 ano e 9 meses, conta que quando Sofia nasceu Artur estava com 2 anos e 4 meses e sentiu a chegada da irmã. “Na gestação ele curtiu bastante. Dizia que seria uma menina e no fim foi mesmo. Ele curtiu a gestação, mas quando a Sofia nasceu tivemos alguns contratempos. O primeiro foi que ele não entendia porque só ela podia mamar no meu seio. Aí expliquei que ela era nenê, que ele já tinha mamado e agora não precisava mais do leite da mamãe. Ele pediu para experimentar o meu leite, eu tirei, coloquei em um copo para ele mamar, mas ele não gostou. Depois disso, ficou mais fácil”, relembra. Andressa conta que, depois de algum tempo, Arthur voltou a fazer xixi na calça e a falar como bebê, mas sempre foi conversando muito com ele. Explicando que o tempo que ela passava com Sofia era necessário, pois ainda era um bebê e tinha necessidades diferentes das dele, mas que nunca deixou de estar ao lado do filho. “Conversei bastante com o pediatra dele, que me disse que o ciúme era normal,umafase da vida da criança e que depois passaria. Hoje, eles são superamigos, mas estão na fase de disputar atenção e colo. Então, quando estão comigo, os dois querem ficar no meu colo, querem que eu brique com eles”, conta. Atitudes equilibradas por parte dos pais são sempre a melhor alternativa. Medidas enérgicas podem contribuir para que sentimentos de inveja e ciúme tornem-se ainda mais fortes. “Quando promovemos a oportunidade para que nossos filhos estabeleçam o diálogo e a reflexão sobre sua própria maneira de agir, estamos de certa maneira ensinando que existem outras formas, mais maduras, de se resolver desavenças e conflitos em prol do respeito e da individualidade alheia”, reforça a psicopedagoga e psicanalista Frida Leão, de São Paulo.

FAMÍLIA EM HARMONIA:

• Jamais faça comparações entre eles. Os filhos são sempre muito diferentes um do outro. Que bom!

Incentive a admiração mútua, elogiando os pontos fortes de cada um

• O jeito que você gosta de cada filho tem a ver com afinidade, e isso é completamente natural. Mas não demonstre preferência

• Não se descuide do filho mais quieto, aquele que não pede afeto. Ele também precisa de você

• Às vezes, passe um tempo com cada filho separadamente, para dar atenção exclusiva

• Identifique as situações de ciúmes e procure intervir antes que vire uma nova briga

• Reforce, sempre, que a amizade entre os irmãos é única. Conte sobre seus irmãos, se for o caso, e mostre exemplos em outras famílias

• Se o ciúmes os deixar agressivo, tente canalizar essa raiva para atividades artísticas. Use argila, tinta, massinha, recortes...

• Crie situações para que eles trabalhem em equipe, como em jogos e brincadeiras

• Não se desespere com as brigas. Elas são normais e fazem parte do desenvolvimento (Fonte: Revista Crescer) Acesse o link do artigo originalmente publicado aqui

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