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​O ídolo teen do meu filho já não é mais tão exemplar. E agora?


Artistas que inspiram crianças e adolescentes mudam o comportamento da noite para o dia e deixam os pais com os cabelos em pé. Saiba como lidar com esse tipo de situação

A passagem de Justin Bieber pelo Brasil no começo de novembro rendeu muito assunto entre a corretora de seguros Cintia Camossato e sua filha mais velha, Camila, de 12 anos. Além de ter acompanhado a menina e quatro amigas no show de São Paulo, a mãe ficou atenta a cada polêmica envolvendo o nome do astro em território nacional para poder conversar em casa sobre o que ele anda aprontando por aí – bebidas e cigarros, tumultos em saídas de baladas, mulheres que supostamente dormiram com ele no hotel e pichação na madrugada.

“Procuro saber de tudo. Acho que os pais têm que se envolver com o que os filhos curtem, têm que entender o universo deles”, argumenta. O mundo do canadense faz parte da realidade da família desde 2010, quando o hit “Baby” estourou e Camila virou fã. De lá para cá, com o cantor tornando-se um adulto diante das câmeras, tudo pode ser motivo de dúvidas da garota ou um gancho para a mãe orientar a adolescente.

Quando caiu na internet o vídeo em que uma moça mostra Bieber dormindo em um quarto de hotel, por exemplo, Cintia antecipou-se e chamou a filha para assisti-lo com ela. Na madrugada em que ele foi fotografado grafitando um muro no Rio, o papo foi sobre a diferença entre pichação e grafite, vandalismo e arte. “Aproveito para conversar sobre assuntos difíceis com exemplos concretos, é muito melhor para ela assimilar”, diz. O fato de o comportamento público do artista não ser mais exemplar como no começo da carreira não é, na opinião da corretora, um problema: “O importante é a Camila manter os pés na realidade, e por isso reforço sempre que ele é um artista muito legal no palco, mas um homem normal na vida real. Um cara com uma vida particular, que vai acertar e errar, beber, fumar, fazer sexo, se envolver com quem só queira se aproveitar dele”. Imitação no dia a dia Para a gerente de vendas Sílvia Figueira, manter a filha adolescente com os pés na realidade é um trabalho diferente: Luciana, de 13 anos, é uma “smiler” (como são chamados os fãs de Miley Cyrus) dedicada, e quer ser igual à cantora e atriz boa parte do tempo. “Como a maioria das amigas, ela começou a gostar da Miley na época de ‘Hannah Montana’ [série de TV que protagonizou de 2006 a 2011]. Acontece que ela era criança e a artista já era adolescente. Agora minha filha é adolescente e a Miley, uma mulher. Procuro lembrá-la sempre de que esta é a fase em que faz mais sentido ela se comportar como Hannah Montana do que como Miley Cyrus”, afirma. O comportamento acentuadamente sexualizado que a cantora vem mostrando em apresentações ao vivo desde agosto, como no Video Music Awards (VMA), não preocupa a mãe. “Com a idade dela, eu era fã da Madonna, que se masturbava no palco. Até que hoje em dia as coisas estão mais leves”, brinca. “Claro que fiquei preocupada quando soube que a moça aparecia pelada em um videoclipe [‘Wrecking Ball’], por isso o assisti e analisei o contexto – que é muito bonito, inclusive. A Lu é muito nova para entendê-lo sozinha, então sentamos e expliquei. Com diálogo, tudo se esclarece”, defende. Isso não impede que, vez ou outra, a adolescente entre em crises por imitar o estilo da artista e perceber que não acerta. “Ela tirou umas fotos com a língua para fora, exatamente como a Miley vez fazendo, mas parou porque se achou ‘feia’. E teve umas semanas em que a Lu queria sair de legging e top cropped, porque a viu assim em tapetes vermelhos, mas ficou com a cara no chão quando mostrei imagens de dia a dia que a própria cantora posta em redes sociais, usando sainha e blusa ou calça jeans e moletom”, conta Sílvia. “Minha missão, atualmente, é fazê-la compreender que existe a Miley personagem e a Miley pessoa. Se nem a pessoa encarna a personagem o tempo todo, por que ela, uma menina comum, vai querer fazer isso?” Ídolos de cara limpa Para os especialistas, é justamente a diferença entre o brilho do palco e a luz da vida real que deve ser destacada pelos pais para que o fato de ser fã de alguém não prejudique os filhos. “Admirar a produção do artista não quer dizer necessariamente concordar com seu modo de ser ou conduzir sua vida pessoal. Fazer essa distinção implica em um processo que muitas vezes o jovem ainda não atingiu”, diz a psicóloga Sandra R. de Almeida Lopes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutora em ciências da saúde. Aí entram os adultos. Como as mães Cintia e Sílvia fazem, é preciso investir no diálogo e em apoio visual. A internet é uma grande aliada nesse sentido. “É fácil encontrar fotos que provem que músicos e atores não são daquele jeito o tempo todo. Muitos, como a Lady Gaga, fazem questão de exibir a cara limpa para que os fãs os conheçam por inteiro. Isso tem que ser valorizado ao ser mostrado para os jovens”, orienta a psicóloga Cynthia Wood Passianotto, pós-graduada em psicoterapia infantil e do adolescente pelo Centro de Formação e Assistência à Saúde (CEFAS) e em psicopedagogia pela PUC-Campinas. Outro método eficaz para ajudar os adolescentes a separarem personagem e pessoa – e, assim, não quererem levar para as vidas deles o comportamento do primeiro – é conversar sobre os ídolos do passado, aqueles artistas que os pais admiraram quando tinham essa mesma idade. “É positivo falar que os ídolos viveram dificuldades, conflitos e insatisfações, e nem por isso o público deixou de apreciar o seu trabalho”, sugere Sandra. Pulso firme Só que nem sempre o diálogo impede que um adolescente comece a imitar atitudes reprováveis de seu ídolo. Pedir a ajuda de um parente “descolado” pode ajudar, segundo Cynthia. "Pode ser um tio, uma tia ou um primo mais velho, que será ouvido por não ser considerado careta. É duro, mas por mais legais que os pais sejam, muitas vezes são tachados de quadrados pelos filhos”, afirma. Isso não significa simplesmente largar a responsabilidade nas mãos de outras pessoas. Os pais devem continuar atentos, conversar, mostrar que nem sempre o artista tem comportamentos adequados para a vida real. “Eles podem tentar explicar a inadequação justificando que algumas regras funcionam no meio artístico porque nele existe uma certa permissividade e tolerância em nome da arte, da criatividade e da popularidade, o que não é habitual para o dia a dia”, detalha Sandra. Cynthia complementa: “Sem atacar, dá para apresentar opções mais bacanas para o desenvolvimento do adolescente”. Se ainda assim o resultado não for positivo, o pulso firme está liberado. “Se o comportamento ou a forma de se vestir for muito inaceitável, talvez os pais possam estabelecer proibição, em nome da proteção da exposição do filho em seu meio social”, finaliza Sandra.

Publicado originalmente em Delas.ig. Veja a matéria original aqui.

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