Adoção: como preparar os filhos para a chegada de um irmão?
Especialistas dão dicas para que o processo seja mais simples para as crianças que já moram em casa Adoção: um ato de carinho maravilhoso e uma grande prova de amor! Nas últimas semanas, o tema tem sido destaque na mídia e nas redes sociais, principalmente por conta dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, que adotaram a pequena Titi, uma garotinha africana de 2 anos. O assunto está tão em alta que até a personagem Doutora Brinquedos, do canal Disney Junior, ganhou uma irmãzinha adotiva, chamada Maia. Por ser um tema tão importante, a ideia da produção é ajudar as crianças a entenderem e compreenderem a chegada de um membro que não foi gerado na barriga da mãe. Desde o início de agosto (2016) o canal está exibindo episódios especiais que exploram o tema. Conhecemos a história da chegada do bebê à casa dos McStuffins e como a família se reestruturou e ficou mais completa com o novo membro. Os pais de Doc, por exemplo, resolveram dar à filha uma boneca, que serviu para adaptação da menina, uma vez que acabou se transformando no seu xodó e no seu “treino” como irmã mais velha. Pois a verdade é que essa mudança na vida das crianças, com a chegada de um irmão adotado, não é tão assustadora quanto parece. Assim como se prepara um filho para a vinda de outro irmão biológico, também é possível prepará-lo para a chegada de uma adoção já que, em ambas as situações, os pais dividirão o tempo entre os pequenos. Mas esse fato, por si só, já gera certo receio de perder território. Nessas horas, segundo Cynthia Wood, psicóloga da Clínica Crescendo e Acontecendo, a sinceridade é a chave. “Explique às crianças que o novo irmão é motivo para se empolgar, sem temor ou receio, e conscientize-as de que você ainda as ama tanto quanto antes e que, mesmo que as coisas estejam um pouco mais corridas com a nova criança, vocês, pais, ainda terão tempo para elas”, ensina. A mesma máxima vale para a origem dessa nova criança. “Os pais devem sempre explicar para os filhos biológicos (ou adotados) que aquele novo membro não será gerado na barriga da mamãe, mas é muito esperado, amado e terá o mesmo amor e espaço na vida familiar”, aconselha. Essa transparência desde o início também fará muito bem ao filho que vai chegar.“Quanto menos segredos, mais a família se apropria dessa adoção e mais a nova criança vai se sentir pertencida”, argumenta Quezia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). O relacionamento entre irmãos Claro que a interação entre os filhos é desejo dos pais, mas caso não surja naturalmente, forçar essa situação não é legal. A aceitação e proximidade dos irmãos devem acontecer de forma espontânea. “Os pais devem ficar atentos para que esse vínculo não seja imposto, sem pressionar ou dizer coisas como ‘Ele é seu irmão e você tem que cuidar dele’. Não é porque ele é o irmão mais velho que deve cuidar do irmão mais novo. O ideal é facilitar atividades que permitam essa interação, apenas mediando esse processo”, complementa a especialista. E, claro, cada uma terá um ritmo e uma maneira de aceitar essa nova configuração. “A criança até 1 ano de idade, por exemplo, tem menos resistência, mas também vai disputar o afeto dos pais; só não consegue verbalizar isso. Conforme for ficando mais velha, ela vai se apropriando daquele lugar que é dela. Se chegar um irmão com menos de 1 ano, esse bebê ainda não interiorizou essa relação de posse daquele lugar”, destaca Quezia Bombonatto. Quando se tem mais de um filho, o mais velho tende a ter mais facilidade na adaptação, porque já teve que lidar com a chegada dos irmãos mais novos. A dificuldade fica para o caçula. Quezia conta que, quando recebe clientes com um irmão adotivo, percebe que o mais novo é o que tem mais ciúmes porque ele perde o lugar. Em compensação, é o que mais se aproxima para ajudar. “E ainda há uma questão de gênero: a menina acaba transferindo o papel de mãe, então, muitas vezes, com a chegada do bebê, ela acaba cuidando da criança. Já o menino vê essa vinda como algo que irá atrapalhar suas brincadeiras”, revela.
Na prática, o que os pais podem fazer? A chegada de um novo membro à família requer ajustes, principalmente na dinâmica da casa. E isso pode ser visto como uma ameaça. O ideal, então, é manter os portos seguros da criança, evitar trocar de escola, de rotina etc. Se forem dormir no mesmo quarto, delegue ao filho biológico a missão de arrumar o cantinho do novo irmão, respeitando o espaço dele, por exemplo. Ah! Paciência e consideração devem ser dobradas, é claro! “Não se preocupe se as crianças mais velhas não desenvolverem laços imediatos com o nova criança ou bebê. Isso é algo completamente normal, mesmo com irmãos biológicos”, garante Cynthia. Como ela lembra, criar laços leva tempo — e não acontece da noite para o dia. Para ajudar no processo, permita às mais velhas passar bastante tempo perto do novo bebê ou criança, segurando-o e brincando com ele. “Ainda, assegure-se de enfatizar a importância de seu papel como irmão ou irmã mais velho(a)”, diz. Veja o artigo publicado aqui Fotos: Getty Images e Acervo Disney