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​Vale tudo para realizar o sonho de ser mãe?


Tratamentos desgastantes, ansiedade, frustrações, gastos financeiros. Para engravidar, muitas mulheres são capazes de enfrentar todos os obstáculos. Mas até quando insistir? “Precisei vender um imóvel para pagar os tratamentos, meu casamento quase desmoronou por causa do estresse e das dívidas e, apesar de ter engravidado na quarta tentativa com a fertilização, passei muito mal durante a gravidez, de tanto medo que sentia de algo acontecer com o bebê. Foi uma fase extremamente difícil”, conta. Hoje, feliz e realizada ao lado de Gabriel, ela diz não se arrepender de nada. “Não recomendo minha experiência para ninguém, mas admito que faria tudo de novo. Mil vezes, se fosse preciso, porque nada se compara à felicidade que sinto agora”, confessa. Assim como a funcionária pública, várias mulheres enfrentam obstáculos na tentativa de realizar o sonho de ser mãe, mas nem por isso desistem de lutar como podem. Existem diversos fatores que a mulher deve levar em consideração ao pensar em engravidar, como a idade reprodutiva, a qualidade da relação com o pai da criança, a estabilidade financeira e o equilíbrio emocional. Mesmo com todos esses pontos alinhados, porém, disfunções hormonais e problemas como ovários policísticos e endometriose podem afetar a fertilidade e dificultar a gravidez. O sofrimento se torna ainda maior quando a mulher se cobra ou se sente cobrada para assumir o papel de mãe. Nesse ponto, vale a pena avaliar se a cobrança para ter filho é mesmo própria ou se está carregando nos ombros as expectativas da família, das amigas que já se tornaram mães ou até mesmo da sociedade. “O papel da mulher mudou muito após sua entrada no mercado de trabalho, mas mesmo assim aquelas que não se casam e/ou não têm filhos continuam a ser cobradas por isso”, afirma Cynthia Wood, psicóloga e psicopedagoga na clínica Crescendo e Acontecendo, de São Paulo. Infelizmente, a visão da sociedade permanece no século passado e persiste na ideia de que o sexo feminino foi feito para gerar filhos. O conceito romantizado de que um filho dá sentido à vida da mulher também ajuda a criar sonhos que, em alguns casos, só geram insatisfação. Para Cynthia, felizmente os tempos estão mudando e, se a mulher não tem o desejo de ter filhos, geralmente não cede à pressão, mesmo sendo vista como “a coitada que não pode gerar uma criança”. “Agora, quando a mulher sempre cultivou o sonho de ter filhos e por algum motivo seu projeto está sendo adiado, a cobrança é enorme consigo mesma. E sentimentos como frustração, vergonha e tristeza vêm acompanhados”, comenta. Paciência e insistência Hoje existem várias técnicas que permitem a maternidade, mas a duração de um tratamento é indefinida: pode ser que funcione logo de cara, pode ser que seja preciso segui-lo por meses ou até anos, o que gera grande estresse emocional e muitos gastos. Algumas mulheres acabam se deparando com dificuldades e, se isso está sendo uma tortura, é melhor pensar até onde se deve ir. “É preciso respeitar a dificuldade, respeitando-se também. Sendo a dificuldade psíquica e/ou biológica, não há tristeza, inconformismo ou ansiedade que a reverta”, fala Elisa Maria de Mesquita, psiquiatra do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo. Quando o cansaço surgir e a vontade de desistir começar a tomar conta dos pensamentos, é preciso ponderar não só se o desejo de ter filhos é genuíno e se ainda há disposição para tentar, por parte de todos os envolvidos. Não é raro que o relacionamento do casal fique prejudicado se somente um dos dois insiste em ter um filho, em detrimento dos sentimentos do outro. Certamente o casal precisará de apoio e suporte emocional para lidar com a desistência e não deve ter vergonha de procurar ajuda dos amigos, de parentes ou da terapia para enfrentar isso com maior tranquilidade. “Além disso, a impossibilidade de gerar não significa necessariamente impedimento para a maternidade”, explica Elisa. Foi pensando justamente no conceito partilhado por Elisa que a professora M. S.*, 39 anos, acabou desistindo de contratar uma “doadora” de barriga de aluguel via internet, prática considerada crime. M. perdeu o útero por causa de complicações cirúrgicas para retirar um tumor em 2011, mas antes já havia tentado reprodução assistida, sem sucesso. Depois de ver uma reportagem na TV sobre pessoas que adotam crianças portadoras de necessidades especiais, sensibilizou-se tanto com as histórias que decidiu entrar na fila de adoção. “Estou esperançosa de que logo terei uma criança em casa. No meu coração, já me sinto mãe”, conta. Combate ao desânimo Algumas tentativas frustradas podem fazer com que a mulher que está tentando engravidar se sinta um completo fracasso. Se você vem passando por essa situação, veja algumas dicas da psicóloga Cynthia Wood para enfrentá-la da melhor maneira possível:

  • Admita que a dificuldade de engravidar é uma crise na sua vida e que é normal se sentir triste.

  • Não se culpe pelo problema e evite dizer frases punitivas, como: "Eu não devia ter esperado tanto", "Não devia ter tomado pílula por muito tempo” ou "Por que não me cuidei melhor?".

  • Você e o seu parceiro precisam se ajudar nessa hora difícil. Seja qual for o problema que vem impedindo a gravidez, é bom que evitem culpar um ao outro por isso.

  • Informe-se sobre problemas de fertilidade e faça todas as perguntas que quiser ao médico, sem medo ou vergonha.

  • Estabeleçam juntos, você e o parceiro, um limite de até onde tentar e até quanto estão dispostos a gastar se optarem por tratamentos de fertilização.

  • Dê-se o direito de evitar atividades que envolvam crianças, mesmo que isso signifique se afastar por um tempo daquela amiga que acabou ter um bebê.

  • Busque o apoio de profissionais e de pessoas com o mesmo problema.

* Nomes omitidos a pedido das entrevistadas. Foto: Getty Images

Veja o artigo original postado aqui.

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