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Como lidar com os traumas na infância


Acidentes, perdas, quedas e até sustos podem abalar as crianças, mas enfrentar o problema com respeito, cuidado e amor ajuda a superá-lo Trauma, de acordo com os especialistas em comportamento humano, é uma experiência emocional desagradável de muita intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente da pessoa. Quando acontece na infância e não é tratado de maneira adequada, pode prejudicar a adolescência e até a maturidade. “Crianças traumatizadas podem se tornar adultos que percebem o mundo como um lugar hostil e perigoso. O sentimento de medo e desamparo cria uma predisposição para quadros depressivos, ansiedade, fobias e pânico, entre outros problemas”, informa a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (USP). De forma geral, os traumas infantis ocorrem devido a diversos fatores, alguns inevitáveis, como perda repentina de uma pessoa querida, necessidade de uma intervenção médica de emergência, quedas, acidentes, desastres, assaltos etc. “Qualquer tipo de violação no desenvolvimento normal da criança pode causar trauma. Quando ela é incapaz de superar algum acontecimento em sua vida, está traumatizada. Isso acontece quando a carga emocional é mais intensa do que pode suportar”, diz Cynthia Wood, psicóloga na clínica Crescendo e Acontecendo, de São Paulo (SP). Mais exemplos? Brigas entre os pais, xingamentos, chantagem emocional, adultos alcoolizados ou drogados na frente da criança, surras, depreciação constante, abandono, sustos com cachorro ou outros animais, achar que a esqueceram na escola, separação prolongada dos pais, divórcio e presenciar cenas de sexo, entre outros. Respeitar o medo é fundamental Para a terapeuta familiar e psicopedagoga Quezia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), também é preciso levar em conta a personalidade do pequeno e os seus medos. “Algumas são mais medrosas ou ansiosas por natureza, o que é biológico. É frequente ver crianças com medo do escuro, de monstro. Trata-se de algo normal que acaba passando com a idade, mas depende muito de como os pais lidam com a questão”, diz. Como ela exemplifica, se chamam uma criança constantemente de medrosa, isso acaba marcando e ela se torna uma adulta com medo de tudo. Quezia ainda alerta contra os riscos de obrigá-la a enfrentar seus receios de maneira muito drástica. É o caso de quem força o filho para tirar foto no colo do Papai Noel no shopping, desprezando seus gritos de desespero. Foi algo do tipo que aconteceu com Eloisa, de 3 anos, filha da dona de casa Amanda Soares Pinheiro, 35. “A Elô sempre gostou de piscina, mas tem medo de molhar a cabecinha. No fim do ano passado, o tio a pegou no colo e entrou numa piscina maior. Ele quis vencer o medo dela na marra e afundou com tudo. Resultado: ela nunca mais quis saber de entrar na água”, revela. A mãe está tentando fazer a menina superar o trauma com brinquedinhos na banheira e na piscininha inflável montada em casa. “Mas ainda está difícil”, admite. Para Quezia, os adultos devem ter muito cuidado e saber não só identificar, mas respeitar se a criança está pronta (ou não) para lidar com o medo. Atenção aos sinais Os pais ainda têm que estar atentos a qualquer mudança de comportamento da criança que possa indicar um trauma: se ela está mais triste, quieta, introvertida ou, ao contrário, mais agressiva, se não interage. De acordo com Ana Paula Magosso Cavaggioni, psicóloga da Clia Psicologia e Educação, na capital paulista, outros indícios são pesadelos ou gritos e falas durante o sono, acordar excessivamente durante a noite, xixi na cama, dificuldade para dormir, culpa, comportamentos infantilizados e necessidade de atenção constante. “Caso esses sintomas perdurem por mais de quatro semanas, é necessário procurar ajuda profissional”, orienta. O que os pais podem fazer

  • Aproximar-se e tentar conversar com a criança, incentivando-a a falar sobre o que sente e pensa. É importante para dar um novo significado ao evento traumático.

  • Também é uma boa ideia oferecer exemplos próprios ou de outras pessoas que vivenciaram traumas semelhantes e contar como fizeram para superar. “Isso leva a criança a perceber que é possível se livrar do sentimento ruim e lhe dá esperança e motivação para cuidar do que sente”, esclarece Ana Paula.

  • Ofereça ajuda. Crianças expostas a tratamentos de saúde invasivos e dolorosos, por exemplo, precisam receber um suporte psicológico para passar por essa vivência, sem que ela traga consequências negativas no futuro.

  • Cuide da segurança dos filhos, sem superprotegê-los. Fique atenta para as situações em que se sentem inseguros, encorajando, mas sem desrespeitá-los. Também não exponha a situações de risco. No mais, oferecer amor e tempo de qualidade ajuda – e muito!

Por outro lado, o pior erro que os pais podem cometer é fazer de conta que nada aconteceu. Muitos imaginam que a lembrança e o sofrimento do que foi vivido vão desaparecer com o tempo se omitirem ou ignorarem a experiência. Ledo engano, pois o recomendado é enfrentar a situação o quanto antes. E atenção: ceder a todos os desejos do filho e deixar de estabelecer rotinas, normas e regras não faz com que os pais não traumatizem seus filhos, mas sim, que os deixem desamparados em sua infância, desprotegidos e inseguros, por não terem referências que podem e devem ser dadas pelo adulto.

Veja a matéria originalmente publicada aqui

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